terça-feira, 6 de abril de 2010

UM BRADO POR PERDÃO


Primeira mensagem da série "Os Brados da Cruz". Preparada para ser pregada na Congregação Batista em Bosque do Ipê em 04/04/2010
Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” - Lucas 23.34[i]

“Pode-se esperar dele algo além do desespero, de bramidos de dor? Do ponto de vista psicológico é humanamente impossível produzir pensamentos altruístas na cruz. Contudo, esse homem mais uma vez abala os alicerces da psicologia. Crucificado Ele foi poético, afetivo, profundo e solidário. O mestre da vida conseguiu ter reações que nem os mais nobres humanistas teriam quando estão em plena saúde. No ápice da dor física e emocional, produziu as mais belas poesias da solidariedade.” Augusto Cury[ii]


O perdão soa maravilhosamente aos ouvidos, até que tenhamos de perdoar. Como perdoar alguém que continua quebrando as promessas? Por que perdoar alguém que não pede o perdão? E por que deveria ser você a perdoar, quando você foi o ofendido? Deve você perdoar alguém determinado a destruí-lo?

Talvez não haja lugar semelhante à cruz, em que nossas dúvidas sobre o perdão são respondidas com tamanha clareza. O primeiro brado do Salvador foi por perdão para os inimigos.

Durante seu ministério, Jesus frequentemente perdoava os que necessitavam de misericórdia. "Filho, os seus pecados estão perdoados", disse Jesus ao paralítico (Mc 2.5). Suas declarações causavam uma avalanche de controvérsias, pois seus ouvintes sabiam que somente Deus podia perdoar pecados. Até mesmo o pecado cometido contra o semelhante é, em última análise, pecado contra Deus. Jesus explicou que possuía autoridade para perdoar pecados, porque detinha credenciais de divindade.

Na cruz, porém, não exerceu essa prerrogativa divina, mas pediu ao Pai que fizesse o que ele, Jesus, havia feito anteriormente. Sacrificado como o Cordeiro de Deus, recusou-se a assumir o papel de divindade. Ele, sem dúvida, era Deus, mas escolheu suspender seus direitos divinos. Identificou-se tão completamente conosco que, temporariamente, abriu mão de sua posição de autoridade. Ainda assim, seu coração preocupava-se com os que haviam instigado e cometido o maior crime da história. Ele orou para que o imperdoável fosse perdoado.

Em seu primeiro brado na cruz, Jesus chamou Deus de "Pai". E o faria novamente em seu último suspiro: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23.46). Mas, em meio à agonia, bradou: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?" (Mc 15.34; grifo do autor). Naquele momento, o Filho sentiu em si todo o castigo de nossos pecados, e até mesmo o Pai retirou dele sua abençoada presença.

Ele podia chamar Deus de "Pai" enquanto era tratado injustamente. Quando a multidão chegou ao lugar chamado "Caveira" (Lc 23.33), a cruz foi deitada no chão, e ele foi posto sobre ela. Foi nesse momento que começou a oração. O texto grego registra que ele ficou repetindo: "Pai, perdoa-lhes..." (Lc 23.34). Embora preso injustamente e tendo sofrido danos pessoais, ele sabia que podia contar com a presença e as bênçãos do Pai. Também sabia que a oração pelos inimigos seria ouvida.

Ele sabia que o Pai poderia tê-lo poupado daquela injustiça. Aliás, sendo a segunda pessoa da Trindade, podia ter escolhido descer da cruz. Mas se salvar dessa maneira não fazia parte dos planos firmados na eternidade. Sendo assim, ficou satisfeito em dizer "Pai", apesar de seus direitos pessoais terem sido insolentemente ignorados e de insultos terem sido proferidos contra ele. Esses sofrimentos não ocultaram a face daquele a quem ele queria agradar.

Dizemos a nós mesmos que pai algum seria mero espectador enquanto o filho estivesse sofrendo injustamente. Mas o Pai de Jesus Cristo ficou firme ao presenciar a mais absoluta perversidade. Cristo sabia que podia confiar no Pai, mesmo quando a maldade parecesse fora de controle.

Palavras de perdão saíam de seus lábios enquanto os pregos eram cravados em seu corpo, quando a dor era mais intensa, quando a aflição era mais aguda. Ele orou enquanto a cruz era baixada no buraco com um tranco. Foi nesse momento, em que os nervos ainda estavam extremamente sensíveis e a dor era inconcebível, que ele, vítima do maior crime da história, orou pelos criminosos.

O cálice havia sido entregue a Jesus pelo seu Pai e consistia na tarefa de comprar "para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação" (Ap 5.9). Isso significava que o Filho seria cruelmente crucificado e se tornaria "pecado" por toda a humanidade. Ele beberia do cálice do sofrimento até o fim. O cálice compraria o perdão para aqueles por quem ele agora orava.

Será que podemos dizer "Pai" enquanto estamos sendo crucificados? Será que podemos orar pelo perdão dos que estão tentando nos destruir? Será que temos fé suficiente para deixar o juízo nas mãos de nosso Pai celestial?  "Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus à ira, pois está escrito: 'Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor'" (Rm 12.19).
Na cruz, vemos o autocontrole do Homem que tinha o poder de destruir, mas, em vez disso, optou pelo perdão. Nessas palavras, está a esperança de nossa salvação. Então, acheguemo-nos para escutar mais atentamente o que está sendo dito. Talvez escutemos nosso nome sendo mencionado na súplica.

1.     UMA SÚPLICA POR PERDÃO

Cercado pelo escárnio e enfraquecido pela perda de sangue, seus lábios apenas se moviam. O que ele estava tentando dizer? Estaria gemendo de dor? Estaria murmurando palavras de autocomiseração? Ou estaria amaldiçoando os que o crucificaram? Não, ele tinha uma palavra de perdão para seus inimigos: "Pai, perdoa-lhes...". 

Ele levou o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu" (Is 53.12). Ele orou em voz alta para que soubéssemos que estávamos incluídos na oração.

A oração iniciada naquela noite continuou na cruz, e ainda hoje ele se encontra à direita do Pai, intercedendo por nós. Esteja certo de que ele nunca se esquecerá de nós.

Passemos à frase seguinte da oração: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo" (Lc 23.34).

1.1.   Eles ignoravam o delito que estavam cometendo? É lógico que não!

  •    Judas sabia que havia traído o amigo;
  •    Pilatos sabia que havia condenado um homem inocente;
  •    O Sinédrio sabia que havia subornado testemunhas falsas para sustentar as acusações.
Nenhum deles ignorava os crimes dos quais eram culpados, mas ignoravam a monstruosidade de seus crimes. Por alguma razão, não sabiam que estavam crucificando o Filho de Deus.

Se eles soubessem o que agora está claro, teriam reconhecido Jesus como o Messias, o Senhor da glória. Estavam conscientes do que haviam feito, mas não de tudo que haviam feito.

"Todo aquele que pecar com atitude desafiadora [...] insulta o Senhor, e será eliminado do meio do seu povo" (Nm 15.30). O tal pecado de natureza é especialmente perverso, pois, cometido conscientemente, é voluntário e subversivo. Obviamente, havia diversos graus de responsabilidade, visto que o povo possuía variados níveis de conhecimento. Para alguns, a rejeição a Cristo foi uma desobediência voluntária.

"Quando alguém cometer um erro, pecando sem intenção [...] trará ao Senhor um carneiro do rebanho..." (Lv 5.15). Não nos esqueçamos do fato de que até mesmo os pecados cometidos na ignorância precisam de perdão. Jesus não disse: "Eles não sabem o que estão fazendo, por isso deixe-os ir em paz".

Os pecados cometidos na ignorância, ainda assim, são pecados. Você alguma vez avançou o sinal vermelho "por ignorância"? A ignorância não é desculpa em nossa sociedade e também não é desculpa na presença de Deus. Além do mais, os que crucificaram a Jesus deveriam saber disso — e saberiam, se não tivessem medo da verdade.

Certamente, o pecado demonstra nossa ignorância. Não temos ideia da grandeza de nosso pecado porque não compreendemos a grandeza de nosso Deus. Mas, hoje em dia, temos menos desculpas que em qualquer outra época. Não temos nenhuma razão para dar as costas ao Salvador, que nos deixou testemunhos óbvios de sua autenticidade.

2.     A RESPOSTA À ORAÇÃO DE JESUS

2.1.   Essa oração foi respondida? Tenho certeza de que Jesus recebia absolutamente tudo que pedia. Ao contrário de nós, o Filho sempre conheceu a vontade do Pai, de modo que sempre agradava ao Pai dar tudo que seu amado Filho lhe pedia. Foram perdoados todos por quem Jesus orou. É claro que não quero com isso dizer que todos os envolvidos na crucificação foram perdoados. Muitos morreram em seus pecados, mas aqueles por quem foi feita a oração receberam o perdão.

Nesse ponto, a vingança de Deus foi retirada, para que o perdão pudesse vir da mesma pessoa que orou por isso. Na verdade, Jesus estava orando para que sua morte fosse eficaz sobre quem devia ser.

Por incrível que pareça, Pedro acreditava que elas ignoravam a total extensão da própria culpa. Ouçam a pregação: "Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos [...] Agora, irmãos, eu sei que vocês agiram por ignorância, bem como os seus líderes" (At 3.15,17).

Medite sobre a misericórdia divina! Deus não responsabilizou aqueles criminosos pela morte de seu amado Filho! Vários deles proclamaram: "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos!" (Mt 27.25), significando que assumiriam a responsabilidade pela morte de Jesus pelas gerações futuras. Mas na soberana graça de Deus, o sangue de Cristo foi, em vez disso, aplicado sobre o coração deles! Será que Deus perdoou essas pessoas sem que tivessem pedido perdão? Não! A oração não foi feita a favor dos que não queriam ser perdoados, mas dos que buscaram o perdão.


3.     RESPOSTAS ÀS NOSSAS DÚVIDAS

3.1.   Existem pecados "imperdoáveis"? A resposta é não, pois, se até mesmo o assassinato do Filho de Deus foi "perdoável" para os que buscaram o perdão, logo, todos os pecados são perdoáveis.

Mas o que o homem não pode perdoar, Deus pode. A cruz pode reparar o irreparável.

Não existe pecado imperdoável para os que se achegam a Cristo em busca de perdão. Mas para os que o rejeitam, todos os pecados são imperdoáveis.

A oração de Jesus foi respondida, porque a cruz é o próprio Deus nos substituindo. Ele, que não precisava de perdão, morreu por todos, e, não fosse pela morte dele, estaríamos condenados.

Ele nos perdoa por misericórdia imerecida para conosco, cuja correta punição seria o inferno. A cruz é a ponte de amor do Redentor. Nela, atravessamos o abismo que nos separa de Deus, que graciosamente providenciou o perdão para os que creem. Se não entendermos isso, não compreenderemos o Evangelho.

3.2.   Devemos orar pelos que não pedem nosso perdão? Sim, Jesus orou pelos seus inimigos antes que eles se tornassem amigos. Não sabemos se irão buscar o perdão de Deus ou o nosso perdão, caso tenham errado conosco. Ainda assim, Jesus ensinou aos seus discípulos: "Orem por aqueles que os perseguem" (Mt 5.44). Essas são as orientações de Cristo para quando nossos inimigos fizerem conosco o que fizeram com ele. Podemos orar como Jesus: "Perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo", mas diferentemente dele, não sabemos como nossa oração será respondida.

3.3.   Devemos perdoar todos os que nos pedem perdão? E, mesmo quando duvidamos da sinceridade, podemos acreditar em suas razões? A resposta é sim, pois não podemos ver o coração humano. Toda a nossa vida deve ser caracterizada pelo arrependimento. "Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: 'Estou arrependido', perdoe-lhe" (Lc 17.3,4).
  
“Jesus cancelou todo o ódio por seus agressores. Rasgou a “duplicata” da arrogância, prepotência e orgulho dos homens que o feriram. Nós muitas vezes abandonamos aquele que nos magoam, mais Ele jamais os abandona. Todos estão aptos a ser seus amigos.”[iii]
O primeiro brado da cruz ecoa a única palavra sem a qual não podemos ser salvos: perdão.Tanto naquela época quanto agora, ele é livremente concedido aos que o recebem humildemente. Afortunadamente, a morte de Jesus fez que a resposta a essa oração se tornasse uma realidade.

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo. 3.16)





José Ricardo Matos

Seu pastor e amigo!





[i] Todas as referências bíblicas são extraídas da NVI
[ii] CURY, Augusto. O MESTRE DA VIDA. Rio de Janeiro – Sextante, 2006. p.90
[iii] Ibid. p.106

RECURSOS
O mestre do amor - Augusto Cury (Editora Sextante)
Os Brados Da Cruz - Erwin Lutzer (Editora Vida)
Seis horas de uma sexta-feira - Max Lucado (Editora Vida)
O Mais Humano de Todos os Homens - GUILHERME CAPANEMA (Ed. do Autor)

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More